sábado, 3 de junho de 2017

Por que o Post Punk excerce tanto fascinio em mim?

O fato de ter tido o privilégio de viver ativamente toda a efervescência do cenário rock dos anos 80 pode ser a resposta a essa pergunta.

A busca desenfreada pelos sons e novidades que o mundo nos apresentava fez daquela década mágica, havia muito espaço em minha mente para absorver toda aquela informação de uma maneira que hoje não existe mais, hoje tudo transborda, hoje tudo vive na superficialidade.

Como grande parte daquela garotada, o Heavy Metal também foi um precioso achado, é uma parte que sempre esteve por perto, mas foi no punk que a identificação tornou-se mais real, havia algo nele que podíamos tocar, viver, experimentar de uma forma mais direta, mais simples, mas a ver com tudo o que nos rodeava, éramos suburbanos, éramos revoltados, tínhamos vontade de fazer algo que não nos era imposto e passamos a viver isso nas ruas da noite Porto Alegrense, onde todos os loucos se achavam, havia uma poesia crua naquilo.

Das calçadas do Bomfim aos templos de agito noturno, víamos de tudo, entre todas as faunas exóticas que se descortinavam diante de nós o pessoal do punk nos fazia realmente pensar, havia um manifesto, tinha toda uma cena fervilhando em nosso estado, fervilhando em São Paulo, fervilhando no Brasil inteiro, seguimos a cartilha como tinha de ser, viramos fanzineiros, viramos idealistas, compramos a briga de uma causa, espalhamos as boas novas, tinha tudo a ver com o The Clash, tinha tudo a ver com os Dead Kennedys, tudo a ver com os Sex Pistols.

Hoje, pensando bem, acho que o que vivemos não foi muito diferente do que aqueles garotos de Manchester viveram quando viram os Pistols cara a cara virando a Inglaterra de cabeça para baixo e inventarem algo a partir daquela experiência, vimos um movimento explosivo e vimos as consequências de tudo aquilo agindo nas cabeças de um país inteiro e disso tudo nasceu o que foi consagrado como o rock nacional daquela década.

O punk continuava, mas ao mesmo tempo ele estava gerando uma arvore genealógica diferencial impossível de ser parada e foi onde o post punk nasceu para nós.

Assim como aqueles velhos discos de rock e blues dos anos 50 que desembarcaram na Inglaterra e moldaram cabeças que iriam gerar os Beatles, os Stones e toda a invasão britânica isso de certa forma também começou a acontecer por aqui, com uma outra roupagem, com uma outra estética, com uma outra mensagem, como uma outra dimensão paralela no tempo e no espaço.

O post punk era o punk mas ao mesmo tempo era a new wave, o synth pop, o pub rock, o gótico, o new romantic, o proto punk, podia ser tudo aquilo, por que não?

Das noites infinitas no Taj Mahal, na Disco Voador, no antigo Ocidente, no Fim de Século, na Crocodilos, no Porto de Elis, nos botecos da Osvaldo, suguei experiências sonoras e vivencias que hoje definem o eclético em mim, esse dom de ir e vir sob qualquer segmento que demonstre relevância.

A informação cultural era uma troca de figurinhas, muitas vezes raríssimas, muitas vezes repetidas, as vezes mais comuns e as vezes incomuns e nisso estava a beleza e o encantamento que herdei nesse louco amor que tenho pela musica, como arte, seja na obscuridade ou não.

Tive a oportunidade de conhecer o Madame Satã, em São Paulo pude ver de onde tudo estava sendo irradiado, na época o Rio de Janeiro também era um ponto crucial, sinto por não ter colocado meus pés no Crepúsculo de Cubatão, essa experiência certamente teria preenchido a lacuna que faltava para que esse texto ficasse perfeito ao que se propõe.

O post punk é como o slogan da Bom Bril dentro do punk rock, era o lema do "Do it yourself" e suas mil e uma utilidades, era fazer por si próprio da maneira que fosse, do jeito que desse, podia começar tudo errado mesmo que achássemos que estava certo, podia ficar tudo torto mesmo que achássemos que estava direito, podia estar desafinado mas para nós não, com o tempo e sem que sequer nos déssemos conta tudo ficaria no seu devido lugar, isso me define, é o que eu sentia na vida naqueles tempos e é o que sinto na vida agora.

Por isso o punk e o seu depois significa tanto para mim.

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