quarta-feira, 21 de junho de 2017

The Lords of the New Church

"The Lords of the new church" com toda certeza foi um supergrupo que se encaixa no perfil post punk, não necessariamente no inicio de sua carreira, mas isso ficou bem evidente na continuidade dela, o vocalista Stiv Bators vinha dos famigerados Dead Boys, o guitarrista Brian James era do The Damned, o baixista Dave Tregunna pertenceu ao Sham 69 e o baterista Nicky Turner ao The Barracudas, todos eles marcaram fortemente o inicio da era punk rock inglesa e americana no meio da década de 70.

Mas durante a chegada dos anos 80, as coisas já estavam bem diferentes de quando começaram, o punk old school havia perdido sua força para o rock mais pop, para o new wave, o tecno pop, o new romantic e a darkwave e esses caras eram músicos ativos, influentes, precisavam fazer algo, algo diferente e a ideia de montarem uma banda entre amigos foi um pensamento instantâneo de que a união poderia ocasionar a força.

A ideia era misturar elementos, criar algo mais melódico sobre a veia do punk, desenvolver um rock 'n' roll mais sombrio, o primeiro álbum, homônimo, lançado em 1982 acertou em cheio, a banda conseguiu criar uma sonoridade e uma estética que influenciou muita coisa após sua estreia, "New Church" , "Open Your Eyes" e "Russian Roulette" caíram nas graças do publico, das radios e fizeram a banda girar.

Logo de inicio já foi nítida a preocupação da banda em soar diferente de suas origens, a musica era melhor produzida e todos eles tocavam com um grau de profissionalismo muito maior do que a displicência e anarquia que os colocou como ícones do punk em seus anos iniciais. Isso alienou muitos adeptos da cena hard core que começou a predominar na década de 80, mas deu aos Lordes uma base de fãs muito mais ampla e diversificada.

A gênese dos Lordes aconteceu em 1980, quando Bators e James, divididos de suas bandas anteriores, renovaram uma experiência que começou quando Dead Boys abriu para o Damned em datas no CBGB e uma turnê inglesa. Os dois passaram um tempo em jams experimentais arriscando outros ritmos, ensaiaram brevemente com o ex-baixista do Generation X, Tony James e o ex-baterista de Clash, Terry Chimes.

Bators e James não conseguiram tirar a ideia da cabeça e em 1981 começaram a ensaiar com a formação inicial do Lordes.

Embora pareça que a banda tenha assumido um ar bem mais controlado nessa nova experiência, Stiv Bators nunca deixou de lado sua performance habitual, os shows da banda chamavam muita atenção pela energia de seus músicos, Bators chegou a sofrer sérias lesões por suas doideiras inspiradas em Iggy Pop, sua maior influencia comportamental, um louco incurável do qual ninguém sabia arriscar quanto tempo mais sobreviveria.

"Is Nothing Sacred?" foi lançado em 1983, época de MTV, "Live for Today" e "Dance with Me" tornaram-se grandes sucessos e foi elevando ainda mais o culto em torno da banda, mas os excessos também.

"The Method to Our Madness", lançado em 1984 foi o disco mais gótico da banda, mais sombrio e o mais post punk de todos, "M[urder] Style" foi o carro chefe nesse trabalho, uma canção bastante inspirada no The Clash, a tour foi bem sucedida, mas a criatividade do grupo após esse álbum passou a escassear e a sequencia que se esperava acabou comprometida, o álbum seguinte "Killer Lords", de 1985, mostrava a banda um pouco menos inspirada e apenas uma versão de "Like a Virgin' da Madonna acabou sendo destaque no trabalho.

A partir de 1985 e banda começou a se desintegrar, cada um passou a seguir por outros lados, o distanciamento foi inevitável, era o fim da fase áurea dos Lordes.

Eles ainda tentaram alguns anos mais tarde retomar suas atividades, mudaram a formação, Bators estava com graves problemas de saúde devido a uma forte lesão nas costas, chegaram a fazer algo juntos e algumas apresentações também até que as possibilidades de futuros encontros dos Lordes foram anuladas quando Bators morreu em 1990 por lesões sofridas ao ser atropelado por um carro nas ruas de Paris.






ENTREVISTA COM BRIAN JAMES:

Brian James comenta sobre os últimos dias da banda e a tentativa de substituir Stiv em uma tour de "desespero".

Nos momentos finais da banda algumas coisas ficaram mal esclarecidas, principalmente quando procuramos outro vocalista para cumprir a agenda de uma tour europeia.

Nunca, absolutamente nunca tivemos a intenção de substituir Stiv, não, eu e ele havíamos começado a banda.

Mas sim, nós procuramos outra pessoa para substitui-lo apenas por um momento complicado que passavamos, isso chateou Stiv, e ele deixou bem claro quando no ultimo show de nossa banda usou uma camiseta com aquele anuncio estampado, banda procura vocalista...

O que aconteceu foi que Stiv estava muito doente, e nós queríamos ...tínhamos muitas dívidas com os impostos, estávamos quebrados e alguém nos ofereceu uma turnê pela Europa e achamos que essa tour iria nos salvar a vida naquele momento, você sabe.

Mas Stiv não estava em condições de fazer qualquer coisa, não havia interesse dele em cair na estrada, não naquele momento, ele estava com uma garota que nos causava problemas, era uma péssima influencia pra ele, ele passava por muitos problemas,e você sabe, ele é o tipo de cara que precisava se cuidar, se policiar, era uma questão de vida ou morte para ele e ele estava indo pelo caminho errado.

E então, por causa disso, foi muito difícil lidar com ele, então decidimos fazer esse tentativa com um substituto, telefonamos para um cara chamado Jim Jones, que estava cantando em uma banda chamada Thee Hypnotics.

E ele tinha voz suficiente e uma boa atitude e ele era o tipo de cara que se encaixava... e ele também era amigo de Stiv, ele conhecia Stiv, telefonamos para o empresario dele e dissemos: "Você acha que Jim pode se Interessar em uma espécie de substituição temporária para a Stiv, apenas para uma rápida turnê europeia? Vamos explicar o que está acontecendo...enquanto estivermos na tour convidaremos jornalistas e todas essas coisas, todos vão querer saber o que aconteceu, você conhece o nosso vocal, ele está doente, para não deixar as pessoas na mão temos de fazer essas gigs, pagar esses malditos impostos e outras dívidas que estamos acumulando". E então fizemos isso ... Nós tentamos com ele, mas ele não estava disponível, ele estava pronto para fazer uma turnê. Então eu e Dave começamos a falar e nós dissemos, "Ok".

Então tivemos a ideia de fazer uma audição, vários caras vieram, nós fizemos essa audição e foi uma piada, não havia nenhuma maneira de que qualquer uma daquelas pessoas pudesse estar nas botas de Stiv por dois segundos, você sabe o que quero dizer, ninguém era tão foda quanto ele.

Jogamos a ideia fora, mas não nos incomodamos em falar com Bators. Nós não dissemos nada a ele porque achamos que não havia porque, naquele momento não estávamos bem e isso só iria piorar as coisas, simplesmente deixamos isso de fora, mas um de seus amigos decidiu contar tudo para ele e, claro, Stiv ficou realmente magoado, mas na dele, quieto. Ele não nos disse nada.

Ensaiávamos e ele ficava lá, calado, você sabe o que quero dizer, não víamos a coisa como uma sacanagem contra ele, foi uma experiência, só isso, estávamos ferrados, ele não cooperava, nossas vidas estavam uma merda, sei lá...

Então marcamos um show, de qualquer forma e no bis Stiv entrou no palco com essa camiseta, o último show dos Lords que fizemos.

O engraçado era... na verdade, naquele tempo, em uma turnê anterior, minha esposa acabava de ter Charlie, meu filho , e eu disse: "Olhe, procurem alguém para me substituir para que eu possa estar em casa, só nessa tour" [isso nunca se tornou realidade].

Ele colocou a camiseta e andou com orgulho, mostrando-se a todos e pensamos: "porra, não tivemos a chance de explicar que não tinha sido nada demais. Foi muito, muito triste, você sabe. Foi uma maneira triste para os Lords saírem de campo, mas ao mesmo tempo fazia sentido, porque sempre houve algum tipo de controvérsia em torno da banda.

SOBRE A COMPARAÇÃO DE STIV BATORS E IGGY POP.

Acho que fui o único cara que tocou com Stiv e Iggy, conheci muito bem os dois, sim, Stiv era apelidado como "Filho de Iggy". Compará-los é realmente muito difícil. Quero dizer, o Iggy fez isso primeiro,então é isso.

Stiv era, obviamente, um grande fã de Iggy, mas, ao mesmo tempo, desenvolveu o seu próprio estilo, ele se tornou sua própria versão ... Ambos foram excelentes em seus próprios caminhos. Quando eu estava trabalhando com Iggy ... Iggy já tinha andado por tudo e teve seus altos e baixos aos montes, mais do que eu tinha. Naquela altura da vida de Iggy eu o sentia muito básico. Um cara muito calculador. Então, com Stiv eu também via algo ser calculado, mas feito sempre daquela forma mais The Stooges, em todos os sentidos, não havia mudado muito desde que vi os Dead Boys pela primeira vez, não como pessoa.

Iggy soube como tornar-se um personagem e separa-lo da vida real, isso salvou sua vida, ele conseguiu escapar da própria auto destruição que poderia tê-lo matado naqueles anos iniciais, Stiv nunca conseguiu separar totalmente as coisas, era um louco genial, sabia ser um rocker autentico, não se importava com contra indicações, mesmo quando se tornou extremamente frágil, nunca foi fácil lidar com ele, mas amávamos o cara.

SOBRE A ORIGEM DO NOME

A ideia do nome veio de uma sugestão de Miles Copeland, que nos gerenciava, estávamos tentando pensar em um nome, Miles na época gerenciava Sting, e estava começando a se envolver em produções cinematográficas e havia esse filme saindo do papel, um tal de "Lords Of Discipline", Miles achou que era um bom nome para nós, mas apesar de acharmos a ideia legal, o lance de "Lords", não queríamos ficar conectados a um filme, e começamos a pensar em algo e o que veio em mente era algo do tipo uma "nova igreja", apesar de acharmos se tratar de um nome longo, "Lords of the new church", ele soava ótimo e tem aquele lado de todos acabarem sempre abreviando as coisas, no final seríamos os "Lords" e foi assim que aconteceu.

CURIOSIDADES SOBRE A BANDA:
A primeira apresentação dos Lordes foi no mesmo local onde fizeram seu ultimo show, no Marquee, em Londres, na época, em 1981 eles subiram ao palco pela primeira vez como banda de suporte para o The Members.

Há uma lendária conversa entre Joey Ramone e Stiv Bators no começo dos anos 80,no inicio dos Lordes, Joey estava falando sobre os Ramones, como eles estavam melhorando naquela época, depois de tantos anos tocando, do que eles já haviam feito, e do quanto tinham de fazer sempre o mesmo repetidamente e Joey disse a Stiv "Não conheço muitas pessoas que puderam ter uma segunda carreira, começar de novo, fazer algo diferente e Tenha conseguido sucesso".

Nesse ponto, Bators obviamente conseguiu um certo status de culto, mas a arte do verdadeiro culto raramente é lucrativa e não Muitas vezes se aproveitam da boa fortuna, mas ambos lembraram de uma coisa: Wolfgang Amadeus Mozart foi para um túmulo pobre.

Stiv nunca esteve bem em relação ao sucesso, o dinheiro vinha, mas ele sempre estava fudido, ele foi bem sucedido na medida em que podia gravar quando quisesse, tocar e visitar os lugares que queria, tinha o suficiente para viver, não de uma maneira incrível, mas ele sempre conseguia escapar vivo de si mesmo.

Ele sempre se ferrava por assinar contratos estúpidos. Stiv era como a maioria dos artistas, queria ser amado, na fase final da banda, seu distanciamento não ocorreu apenas por causa dos problemas de saúde, ele entrou em parafuso por lembrar de situações passadas e começar a desconfiar de falcatruas nos contratos assinados com os Lordes, nesse ponto varias pessoas em sua volta o influenciavam negativamente, deu inicio a processos judiciais dos quais perdeu, coisas que o isolavam e prejudicavam seriamente sua vida como artista, muito pouco é comentado sobre isso, mas aconteceu.

Carroll, a namorada de Stiv é apontada pela banda como pivô e a encrenqueira suprema que azedou a harmonia entre eles, ela assumia a palavra por Stiv, como uma porta voz, quando indagada sobre o final do grupo ela declarou: "Por que os Lordes se separaram? "É uma longa história. Quando conheci Stiv, ele estava realmente fodido e sem confiança, havia situações pesadas com seu divórcio, as coisas com a banda não corriam bem, ele geralmente estava infeliz. De qualquer forma, houve uma turnê na Espanha e Stiv caiu do palco, fraturou um osso na base da coluna vertebral. Ele não poderia voltar no palco por cerca de dois a três meses e isso o fez perder muito dinheiro. Stiv teve que descansar e fomos para a França. Enquanto isso ele foi surpreendido ao saber que a banda colocou um anuncio buscando outro cantor. Não creio que acreditassem no relatório dos médicos, era como se eles achassem que Stiv estava muito feliz por estar fazendo outra coisa, foi um golpe baixo, ninguém fazia ideia do que ele estava passando.

Em setembro de 1989, Stiv fez um show como "Return of The Living Dead Boys" na The Opera on The Green, em London Shepherds Bush, com uma banda composta por Bryn Merick de The Damned, no baixo, ex UK Sub Alan Lee no violão e o antigo baterista dos "Medics", Vom. Naturalmente, o set list foi composto de músicas Dead Boys, além de um novo material, entre elas, a canção "No Compromise".

Stiv voltou a Paris onde ele e Carroll viviam com seus dois gatos, Satan e Dumbfuck. No início de abril de 1990, seu projeto chamado "Stiv's Something Else" finalmente teve inicio. Uma gravadora local,a Bondage, colocou o dinheiro para uma Semana de gravação nos estúdios EMI em Paris, para que a Stiv fizesse as demos. Ele recrutou Dee Dee Ramone (baixo,Kris Dollimore (guitarra) e Vom na(bateria), Johnny Thunders dirigiu duas faixas e Neal X (ex-SS Sputnik) foi o engenheiro responsável.

As demos seriam levadas para a America onde Stiv planejava conseguir uma banda fixa, e chegou a agendar varias datas, ele estava novamente motivado, haviam 6 faixas finalizadas, que acabaram lançadas no álbum póstumo "Last Race", mas infelizmente não viu aquele sonho se concretizar.



Stiv Bators foi o único dos três amigos conhecidos como "Whores of Babylon" e companheiros de heroína no auge do punk 77 que não morreu devido a uma overdose. Os outros dois membros e amigos, Johnny Thunders e Dee Dee Ramone, morreram por causa disso, Johnny em New Orleans, menos de um ano após a morte de Bators, e Dee Dee pouco tempo depois de ser induzido no Rock and Roll Hall of Fame.

No verão do ano de 1990, Bators, intoxicado, foi atingido por um táxi enquanto atravessava uma rua em Paris. Ele foi levado para um hospital, mas, como dizem, ele abandonou o hospital e foi para sua casa, após esperar durante horas que um médico o atendesse. Alguns dizem que ele morreu enquanto dormia, resultado de uma concussão. Dave Tregunna, no entanto, afirma que Bators, um grande fã de Jim Morrison, pediu-lhe que suas cinzas fossem jogadas sobre o túmulo de Jim Morrison, em Paris. Entretanto, no comentário do diretor (no filme "Polyester"), filme no qual Bators trabalhou, John Waters comenta, a respeito da morte de Stiv Bators, que a sua namorada cheirou as suas cinzas.

De 1992 a 1996, James tocou guitarra com a banda de Bruxelas The Dripping Lips, em 2001, James gravou o álbum "Mad for the Racket" com Wayne Kramer (guitarra), Duff McKagan (baixo), Stewart Copeland e Clem Burke (bateria) o projeto se chamou "Racketeers".

James e Dave Tregunna reformaram The Lords of the New Church em 2002-2003 com o vocalista Adam Becvare. A programação gravou um CD inédito de dez canções e percorreu a Europa na primavera daquele ano.

Depois disso James lançou um álbum solo com sua banda The Brian James Gang em 2006.

Nos últimos anos tem focado em seu trabalho solo e em alguns shows onde revisa seus anos com o "The Damned", em 2015 lançou o album "The Guitar That Dripped Blood", ao lado de convidados como Cheetah Chrome e Adam Becvare.

O ULTIMO SHOW.

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