quarta-feira, 31 de maio de 2017

O poder da Rakta!

Rakta é uma palavra que deriva de "rajas" (em sâncristo), que é o componente de energia que produz movimento, força e expansão e é também o nome da banda paulista de post punk que mais tem se destacado no Brasil e também no mundo.

O power trio feminino já está em seu terceiro disco e já girou com aplausos na América do Norte e Japão, nada mal para uma banda que muito pouca gente faz ideia da existência mas que é imensa em sua criatividade, infelizmente é assim que as coisas são para o que é diferencial e único.

O post punk da Rakta aborda o universo feminino em grande parte de suas canções e isso é feito de maneira tribal, hipnótica e contagiante, ao meu ver trata-se de uma banda visceral, uma das coisas mais legais produzidas no Brasil nos últimos tempos.


The Fall - "Bend Sinister" e a classica versão de "Mr Pharmacist".

O The Fall foi outra das marcantes descobertas da década de 80, outra das grandes bandas vindas de Manchester.

Começaram sua história no final da década de 70, liderados pelo figuraça Mark E. Smith, mas foi com o nono disco de estúdio deles, o ótimo "Bend Sinister" que eles chegaram com força aos meus ouvidos, todo o disco é uma pérola mas ele chama a atenção também pela excelente regravação de "Mr Pharmacist", um hit garageiro da década de 60 gravado pela banda "The Other Half".

A banda já lançou 31 discos ao longo de sua carreira, possuem uma legião de seguidores fiéis que seguem respeitando a projeção que a banda conquistou no underground.

Mark E. Smith é uma lenda de opinião forte e muitas vezes controversa, nunca foi uma figura fácil e pouco se importa com isso, eu poderia destacar aqui dezenas de grandes marcos e contribuições do The Fall em todos esses anos, mas nesse post vou apenas relembrar a sensação que tive quando botava para rodar "Mr Pharmacist" e enlouquecia quem estivesse por perto.


A fantástica banda "Harry'.

Meu primeiro encontro com a "Harry" foi durante uma das saudosas madrugadas vividas na lendária danceteria Taj Mahal em Porto Alegre, umas das mais fantásticas casas que marcaram a noite da década de 80.

Eu era um habitante quase residente daquele lugar, toda memória afetiva ligada aos grandes clássicos do pop rock daquela década começou lá dentro e vive em meu coração até hoje, viverá para sempre.

O DJ da fase áurea da casa foi o Edson Dutra, nos tornamos grandes amigos e muitos sons eu tive o prazer de introduzir nas programações habituais que ele fazia, canções como "Human Fly" dos Cramps, "The Voice" do Ultravox, "A means to an End" do Joy Division, "Blue Monday" do New Order (que estourou as caixas na primeira vez em que foi tocada devido ao impacto dos graves),"Body Electric" do Sisters of Mercy, "Fluss" do Rheingold, entre outros que não lembro nesse instante, mas a casa também era um portal para grandes descobertas.

Durante uma época eles inauguraram novos espaços no local e um deles chamava-se "subterrâneo", um porão com piso estilo tabuleiro de xadrez, grandes almofadas pretas espalhadas pelo chão, um clima meio que feito sob medida para os darks de plantão e ali as novidades mais interessantes rodavam livres e sem discriminação, por mais diferentes que fossem, perfeito, perfeito.

E naquele local eu ouvi uma das musicas mais doidas que já tinha escutado até então, tratava-se da alucinante "Caos" da banda paulista "Harry", faixa pertencente ao primeiro EP deles, a doideira do som me pirou no ato, o que era aquilo?

Um post punk classudo, abarrotado de efeitos e climas espaciais tornavam aquela banda mais do que especial, uma das grandes descobertas que lembro com grande carinho até hoje, segui a banda depois daquele achado que logo se fez ainda mais impactante com o lançamento do álbum "Fairy Tales", sem duvidas um dos grandes marcos da musica underground brasileira de todos os tempos.

A partir de "Fairy Tales" o clima ficou mais eletrônico, synth, industrial e continuaram geniais entre idas e vindas que rolam até hoje.





O impacto do Joy Division.

Sempre fui um caçador de grandes novidades no que diz respeito ao rock, independente delas pertenceram ao passado ou não, me importava o conhecimento, o encontro com o diferencial.

No meio da década de 80, quando comecei a procurar por registros da cena punk dos anos 70, eu ouvia muitos falarem sobre essa banda de Manchester, na Inglaterra, o Joy Division, mas não vivíamos a facilidade que todos hoje possuem de ter a internet como meio de acesso a informações e registros, tudo era muito, muito mais difícil, ouvir falar era uma coisa, nos depararmos com ela era outra bem diferente.

Foi em uma visita a casa da irmã do músico Porto Alegrense Gustavo Brum, que na época era vocalista da banda punk Pupilas Dilatadas, que vi pela primeira vez um vinil do Joy, o "Closer", foi onde tive meu primeiro contato com aquele som diferente de tudo que eu havia escutado até então, não era uma banda punk mas havia traços e indícios de que eles haviam bebido na fonte, confesso que de inicio foi uma experiência estranha, havia uma sensação densa, arrastada, poética e melancólica exalando em cada faixa daquele álbum, ele não era de fácil digestão mas aquilo me atraía.

O Gustavo era um cara de conhecimento profundo na área do punk e suas novas vertentes, ele mantinha contato direto com Jello Biafra dos Dead Kennedys, seu quarto era abarrotado de encomendas destinadas a ele pela Alternative Tentacles, para mim era um deleite estar diante de tanta informação e então eu ouvi toda a história do Joy Division e soube do triste fim de seu vocalista Ian Curtis, uma história chocante para uma banda chocante.

Gravei aquele disco em uma fita K7 e comecei a espalhar para todos que eu encontrasse pelo caminho, "Isolation" , "A Means to an End" e "Love Will tear us apart" (que constava na primeira edição do álbum lançado no Brasil pela Stiletto) tornaram-se trilhas sonoras constantes nas festas undergrounds que comecei no meio daquela década, com um acervo cada vez maior de bandas novas nas mãos não demorou muito para que o pessoal em minha volta me apelidasse como o "maluco dos sons" e os convites para discotecar em reuniões particulares e encontros de doidos começou a chover.

A gravadora Stiletto teve um papel fundamental para a disseminação do rock mais obscuro dos anos 80 em nossas terras, eu caçava tudo que eles lançavam, não era algo de conhecimento geral, era um nicho bem fechado, mas a ideologia do selo era sensacional e me colocou diante da atualização de coisas fantásticas como Bauhaus, Cocteau Twins, The Fall, Durutti Column...era a porta de entrada a um mundo novo por aqui, embora muitas delas eu já tivesse tido contato um bom tempo antes de lançadas nacionalmente.

A descoberta de "Unknown Pleasures" veio logo na sequencia, embora fosse o primeiro registro da banda e esse disco em especial bateu muito forte, eu diria que ainda mais do que "Closer" porque as referencias do punk estavam ali e tratava-se de um disco mais visceral e cru, "Disorder", "She's Lost Control", "New Dawn Fades", "Shadowplay" e "Interzone" eram minhas favoritas, a partir dali o Joy Division seria um vício eterno.

O baixo de Peter Hook é para mim uma das pedras fundamentais para toda uma imensa cena post punk inspirada no Joy Division e que vou aos poucos mostrando por aqui.

O efeito do Post Punk em minha vida.

De certa forma me considero um filho do cenário post punk surgido na década de 80, da mesma forma em que fui tocado pelo punk old school que deu origem a essa transformação musical que espalhou-se pelo mundo.

Há todo um universo que considero paralelo ao que é chamado de post punk, incluo nisso as bandas com toques de synth wave, darkwave, minimalistas...há um grande material a ser explorado e basicamente é a proposta desse blog, um espaço para registro de todas descobertas que tive nessa dimensão musical, espero que gostem.