quarta-feira, 31 de maio de 2017

O impacto do Joy Division.

Sempre fui um caçador de grandes novidades no que diz respeito ao rock, independente delas pertenceram ao passado ou não, me importava o conhecimento, o encontro com o diferencial.

No meio da década de 80, quando comecei a procurar por registros da cena punk dos anos 70, eu ouvia muitos falarem sobre essa banda de Manchester, na Inglaterra, o Joy Division, mas não vivíamos a facilidade que todos hoje possuem de ter a internet como meio de acesso a informações e registros, tudo era muito, muito mais difícil, ouvir falar era uma coisa, nos depararmos com ela era outra bem diferente.

Foi em uma visita a casa da irmã do músico Porto Alegrense Gustavo Brum, que na época era vocalista da banda punk Pupilas Dilatadas, que vi pela primeira vez um vinil do Joy, o "Closer", foi onde tive meu primeiro contato com aquele som diferente de tudo que eu havia escutado até então, não era uma banda punk mas havia traços e indícios de que eles haviam bebido na fonte, confesso que de inicio foi uma experiência estranha, havia uma sensação densa, arrastada, poética e melancólica exalando em cada faixa daquele álbum, ele não era de fácil digestão mas aquilo me atraía.

O Gustavo era um cara de conhecimento profundo na área do punk e suas novas vertentes, ele mantinha contato direto com Jello Biafra dos Dead Kennedys, seu quarto era abarrotado de encomendas destinadas a ele pela Alternative Tentacles, para mim era um deleite estar diante de tanta informação e então eu ouvi toda a história do Joy Division e soube do triste fim de seu vocalista Ian Curtis, uma história chocante para uma banda chocante.

Gravei aquele disco em uma fita K7 e comecei a espalhar para todos que eu encontrasse pelo caminho, "Isolation" , "A Means to an End" e "Love Will tear us apart" (que constava na primeira edição do álbum lançado no Brasil pela Stiletto) tornaram-se trilhas sonoras constantes nas festas undergrounds que comecei no meio daquela década, com um acervo cada vez maior de bandas novas nas mãos não demorou muito para que o pessoal em minha volta me apelidasse como o "maluco dos sons" e os convites para discotecar em reuniões particulares e encontros de doidos começou a chover.

A gravadora Stiletto teve um papel fundamental para a disseminação do rock mais obscuro dos anos 80 em nossas terras, eu caçava tudo que eles lançavam, não era algo de conhecimento geral, era um nicho bem fechado, mas a ideologia do selo era sensacional e me colocou diante da atualização de coisas fantásticas como Bauhaus, Cocteau Twins, The Fall, Durutti Column...era a porta de entrada a um mundo novo por aqui, embora muitas delas eu já tivesse tido contato um bom tempo antes de lançadas nacionalmente.

A descoberta de "Unknown Pleasures" veio logo na sequencia, embora fosse o primeiro registro da banda e esse disco em especial bateu muito forte, eu diria que ainda mais do que "Closer" porque as referencias do punk estavam ali e tratava-se de um disco mais visceral e cru, "Disorder", "She's Lost Control", "New Dawn Fades", "Shadowplay" e "Interzone" eram minhas favoritas, a partir dali o Joy Division seria um vício eterno.

O baixo de Peter Hook é para mim uma das pedras fundamentais para toda uma imensa cena post punk inspirada no Joy Division e que vou aos poucos mostrando por aqui.

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